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domingo, 15 de julho de 2007

Roubaram o meu celular

Roubaram o meu celular
Maíra Gouvêa.

Tenho culpa. Reconheço que tive culpa. Roubaram o meu celular. Porque eu fui fazer isso? E agora? Roubaram o meu celular. Com ele, minha agenda telefônica, meus recados, minhas mensagens e a minha esperança de lembrança de quando será o aniversário do Tiago. Maura não se contentava com o que ela considerava uma tragédia por bobeira.
Será bom ficar remoendo que tive culpa? Que fui à única culpada? Eu quero e preciso tanto do meu celular. Quando eu não o tinha, nunca me fez falta nem sentia inveja de quem possuía um. Também eu não sabia o que era ter um celular. Agora estou dependente dele. Maura andava de um lado, depois mudava de caminho e estava assim, sem rumo, cheio de indagações.
O Que fazer? Ir à polícia? Não adianta. Todos os dias ouvem-se histórias de roubo, perdidos e achados e nunca se soube que a polícia de Macapá recuperou pelo menos um. Devo ir à operadora? De que adianta? Eles vão me mostrar uma infinidade de aparelhos e várias opções de pagamento. Eis mais problemas e nenhuma solução. Não tenho dinheiro para outro, por mais baratinho que seja. Mas eu não quero outro. Quero o meu celular. Ela olha a bolsa, de novo, na tentativa de achar que não tinha procurado direito. E não achava nada.
- Minha angústia era com a falta dele, do meu celular. Ouvi-lo tocar em minha bolsa, tocando e recebendo ligações das minhas amigas... Maura Continuava a falar com a culpa dela.
- O que é Maura? Estás tão preocupada, perdida... Já sei. Desligaram a bomba de oxigênio do teu aquário e o “amarelinho” morreu?
- Êêê, menina. Quem tem aquário é o meu amarelinho, não sou eu, não.
- Então ele não morreu?
- Claro que não, sua boba! Você acha que não pensei numa alternativa para o caso de faltar energia? Tu és lesa, é?
- ÔÔ, Maura! Só queria te ajudar...
- Desculpa Kaká. É que roubaram o meu celular. Logo o meu. Tem tanto celular mais bonitinho que o meu e foram achar o meu o mais bonito?
- Isso acontece, Maura.
- Eu sei. Eu sei que acontece. Mas tinha que acontecer logo comigo?
- Será que o Rodrigo respondeu o meu E-mail?
- Como vou saber se roubaram o meu celular? Ele era o meu computador portátil, meu confidente, meu grande amigo, minha memória, meu despertador e minha agenda.. Era o meu tudo!
- Era?
- Claro Kaká. Acabei de lamentar o roubo do meu celular e você não entendeu que ele não está mais comigo e que não posso fazer nada sem ele?
- Ei, tive uma idéia brilhante...
- Fala Kaká, estende este teu brilho e ilumina este caminho... Destoa minha mente.
- Péra aí, péra aí. Primeiro vamos à empresa operadora, comunicamos o sumiço e pedimos o bloqueio do telefone e aí ele não serve mais pra nada. Não é legal?
- Não, Kaká. Bloquear é como matar o meu celular e a esperança de nunca mais o recuperar. Será que tu não entendes que se eu pedir o bloqueio a tal pessoa que está com o meu celular, não vai atender nunca? Idéia brilhante...
- Mas a gente pode ir lá informar na operadora que ele foi roubado. Aí eles vão rastrear o teu número e então podemos acionar a polícia para grampear o ladrão. Aí...
- Mas para o tal cara atender, o telefone tem que estar ligado.Ôôôô!
- Mas eu vou vá falar com ele e peço para ele não desligar o telefone e assim, quando a operadora rastrear a gente avisa a polícia e pegamos ele.
- Mas Kaká, você é realmente brilhante... Quem é ele?
- Ora, Maura, assim tu me deixa encabulada.
- Encabulada, está eu. Quer dizer que você vai pedir para o tal cara não desligar o telefone...
- Não é uma boa idéia?
- Mas como você vai saber quem é o cara?
- Não se preocupe. Tenho meus contatos. Minha amiga, eu conheço tanta gente naquele meu salão de manicure, que eu nem te conto.
- Conta, sim. Como você vai conseguir localizar o cara que roubou o meu celular se você não tem nenhuma pista?
- Pista?
- Ora pistas. Os meus informantes são ótimos...
- A culpa é minha, toda minha, mea culpa, mea culpa mea máxima culpa...
- Não adianta se lamentar nem ficar rezando. Se for pra pedir ajuda de cima, meu Pai, lá do terreiro perto de casa sabe tudo. E é com ele que vou falar.
- Mas os teus informantes, Kaká?
- Tu não entendes nada, de nada mesmo né, Maura? Os meus informantes são filhos do meu pai. Quer dizer, do pai lá do terreiro. Ao invés de pedir pro meus informantes, falo direto com o meu pai. Ele me atende. É que de vez e sempre, ele me pede uns favores e eu faço uns carinhos, nele. Sacou?
- Eu mereço! A culpa é minha. Desde o começo a culpa é minha e eu assumo.
- Pára de se culpar, Maura. Amanhã este telefone estará aqui, ó! Na palma de minha mão.
- Esse pai de santo é dos bons, mesmo?
- Hôôô!
- Então pede para ele anotar aqui nesse papel, os números da loto, sena, lotomania e da federa desta semana. Toma!
- Mas isso ele não pode...
- Por que não?
- Porque ele não pode pedir nada pra ele, só pros outros.
- Mas não é pra ele. É pra mim. Diz que ando aflita, que preciso muito do dinheiro e que se eu ganhar, vou dar em espécie, dinheiro vivo, pulando na mão dele, 10% de tudo que eu ganhar. Prometo.
- Mas se ele vai te dar os números e tu só vai dar 10% pra ele... Então ele joga e fica com tudo!
- Mas aí os santos não vão dizer os números. Porque ao invés dele atender os outros está pedindo para ele mesmo. E como os santos só atendem aos pedidos para os outros. Ele não pode pedir pra ele. Entendeu?
- Tem razão, Maura. Tu é muito esperta. Então vou pedir pro pai me dar os números, quanto eu levo nisso? Cinco por cento?
- Não, Kaká. Dou-te 10% também. Igual a oferta que estou fazendo para o teu pai...
- Agora começamos a nos entender.
Eu mereço. Eu não tinha nada que dizer para os meus amigos, lá da escola, que meu pai tinha me presenteado com o telefone do Romário, quando ele esteve lá no Rio de Janeiro.
- Entendi. Agora entendi Maura!
- Entendeu o quê, Kaká?
- Essa pessoa que roubou o teu celular, roubou pensando em também ter o telefone do Romário...
- Mas o telefone do Romário, que meu pai trouxe, é um chaveiro no formato de um telefone, onde está desenhado o Zagalo sentado na pia do sanitário. É a reprodução de um cartaz, que o Romário mandou desenhar na porta do WC masculino, de uma boate dele...
- Mas então, Maura. Eles queriam copiar o telefone do Romário para colocar na agenda deles. Quer ver? Tu não tem o telefone do Tiago? Liga para ele e pergunta se ele também não tem o telefone do Romário.
- Kacá, você é legal. Sinto que queres me ajudar. Mas como eu posso ter o telefone do Tiago e ligar pra ele?
- Ela está certa, Kaká...
- Pedrinho, tu estavas muito bem calado. Se não podes nem queres ajudar, fica calado. É a melhor contribuição que podes dar, é ficares calado...
- Huuummm!. Agora deu de falar com esses chiados de ésses, ésses, ésses..
- Mas desta vez o Pedrinho tem razão, Kaká. Como o Tiago poderia me ligar se ele me desse o telefone dele?
- Num vem dizer agora, que tu não tem o telefone dele?
- Você quer dizer o número do telefone dele né, Kaká?
- É, Maura. Eles estavam atrás do telefone do Romário. Tu não percebeu?
Eu mereço todas as penalidades. Mereço tudo. Mea culpa, minha máxima culpa...

A Maura e a Kaká são duas amigas, desde o primeiro ano da escola. É a Kaká, quem vai comprar lanche, cartão telefônico, levar recadinhos, ligar dizendo que não vamos poder ir a um compromisso e nas horas vagas, é pedicura e manicura. É uma pessoa maravilhosa, coração bom, prestativa e está sempre dando um jeito em tudo, menos na vida dela.
E a Maura, coitada. Não tinha nada de falar do telefone de Romário, sem explicar que era um chaveirinho, sem-vergonha e com foto do Zagalo sentado na “privada”... Depois dessa é bom ficar ligada. Pode ser que o novo dono do telefone dela, resolva devolvê-lo.

2 comentários:

Anônimo disse...

Essa Kaká é muito burra, hein? Será se eu mandar ela ver se estou na esquina e vai e vem para dizer que eu não estava lá? É bem capaz. Vai ver que ela é bregueira. Só pode ser.

Anônimo disse...

ENTROPIA - O grande problema dos nossos tempos é que viramos poliglotas, perdemos o hábito de ouvir e desconhecer as palavras que se fala e ouve. Às vezes as pessoas têm pressa em responder o que nem ouviu perguntar. Mas essa Kaká, tenha a santa peciência.

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